Ontem, quando cruzou aquela
avenida, sentiu solidão. Parecia que área de seu corpo que envolve o coração estava
se encolhendo devagar e sendo empurrada pra dentro, mas tudo continuava estável
pelo lado de fora. Nos primeiros minutos, soou como uma melancolia saudável,
aquela tristeza leve que a gente sente às vezes, quando está sozinho, e que
passa assim que lembramos de alguma coisa boa. Essa solidão faz até bem, pensava
ela. Faz você se sentir um personagem de filme ou de livro, que sempre toma as
decisões mais importantes do enredo enquanto anda sozinho pelas ruas ou toma
uma bebida amarga no balcão de um bar vazio.
O problema é que, ontem, não
havia decisão a ser tomada, não havia uma ligação importante a ser feita. Não
havia sequer uma tristeza boa para ser lembrada ou um passado negro a ser
remoído. As tolices da adolescência, que costumavam diverti-la e até mesmo
inspirá-la, viraram apenas tolices e lembranças das quais se envergonhar. Entre
uma passada e outra, tudo se tornara ridículo, fútil, intragável, sem
propósito: as roupas, o jeito que tinha prendido o cabelo, a mensagem que tinha
mandado para o amigo que já não via há tempos (e que não tinha sido respondida),
o flerte com o desconhecido no ônibus. É incrível como alguns minutos desse
sentimento podem fazer você se arrepender de tudo que fez nas últimas 48 horas.
É como se você mesmo se tornasse o único espectador de todos os seus atos e decisões e julgasse cada palavra, cada movimento.
Dessa vez, não era solidão
Hollywoodiana. Não havia o que ser feito.
Agora, pelo menos, ela tinha uma explicação: solidão é saudade de alguém que
nunca existiu.
Adorei!
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