domingo, 15 de julho de 2012

Sobre como deveria ter sido

     Saltaríamos do táxi em frente à entrada principal, você carregando as malas grandes e eu fingindo ajudar, pegando uma mochila pequena e a minha bolsa de mão. Cruzaríamos as portas automáticas e andaríamos pelos corredores demasiadamente iluminados, preocupados em achar o guichê certo e conferindo o relógio a cada cinco minutos. Não que fôssemos estar atrasados, mas esse é um dos artifícios para quando estamos em situações desconfortáveis, recorrer a um hábito corriqueiro como conferir as horas. Enfrentaríamos as filas tentando travar diálogos simples, nada muito nostálgico ou relevante. 

     Depois de despachar a bagagem, tomaríamos café em uma daquelas lanchonetes com mesinhas para dois. Eu faria alguma observação sobre as flores do balcão, você diria que o pedaço de bolo que pediu não estava bom. E enquanto o líquido escuro descesse pelas nossas gargantas, o silêncio finalmente se estabeleceria entre nós. Não como um elefante grande e inconveniente, como ele costuma ser nessas situações, mas como um alívio que ambos estavam adiando, incompreensivelmente. 

     Andaríamos até a ala de espera e sentaríamos lado a lado em um daqueles bancos enormes. Eu correria os olhos sobre um livro qualquer e você ficaria no celular, checando e-mails. Depois de alguns minutos, eu te daria o livro e pediria o celular para ouvir música. 

     Quando finalmente o aviso do voo soasse nos alto-falantes do aeroporto, nos levantaríamos e eu te levaria até o portão de embarque. Você deixaria a mochila no chão e me abraçaria como se fosse a última vez. Talvez fosse, realmente. Minha cabeça encontraria o ponto exato entre o seu pescoço e a sua clavícula, onde ela se encaixa tão bem, e nós ficaríamos ali por pelo menos 5 minutos. Quando fosse mesmo hora de ir, meus dedos se aninhariam em seu cabelo e nós daríamos um beijo curto. Provavelmente seria estranho, com gosto de choro apesar de não haver lágrimas. Com jeito de último, embora não houvesse certeza. 

     Você pegaria sua mochila e iria embora sem olhar para trás. Eu ficaria te olhando até você virar um ponto no fim do corredor. A essa altura, com certeza haveria lágrima em meu rosto, mas eu não sentiria como se estivesse quebrando uma promessa. Por trás do seu andar seguro em direção àquele avião, eu seria capaz de ver a água nos seus olhos também. 

     Mas, apesar da quantidade insana de futuro do pretérito nesse texto, não é assim que deveria ter sido. O bom, pra mim, seria se você nunca tivesse ido.