quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Grey

Ela bateu a porta sem nem olhar pra trás.
Enquanto juntava seus pertences espalhados pela casa, a cada piscada que eu dava uma cor se esvaía. Tentei manter os olhos abertos por mais tempo, numa tentativa ridícula de adiar aquilo, mas a ardência fechava as minhas pálpebras e quando eu as abria novamente, lá se tinham ido duas ou três matizes. Ela carregou naquela caixa de papelão a minha alegria.
Se ela fosse uma cor, seria azul marinho. Combinava com meu sorriso amarelo! Mas, pelo visto, ela achou a combinação carro vermelho + casa branca de vidros verdes mais... harmoniosa.
O engraçado é que, no início de tudo, seu passatempo preferido era "dar mais tonalidade a minha vida". Em alguns meses, tinha transformado meus dias em telas de Monet e o meu apartamento em um projeto do qual Barragán se orgulharia. Os anos se passaram e agora ela foi embora. Levou a paleta com ela, é claro.
Tentei pintar tudo de novo, começar do zero. O problema é que eu só tinha guache, e depois da primeira lágrima foi tudo embora. Talvez tente aquarela mais tarde, quem sabe.
Só sei que, por enquanto, é melhor eu me acostumar com o cinza. (Que não vai deixar de ser uma bela cor, eu suponho).

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