Eu sei de tudo que eu devo fazer.
Passei os dois últimos meses pensando profundamente em prós e contras, em
consequências. Tomei a minha decisão duas noites atrás, mas ainda não disse
nada. Poderia mentir e dizer que eu ainda não consegui, mas a verdade é que eu
não quero. No fundo, o meu maior desejo é que você possa captar as coisas no
ar, sem que eu tenha que dizer as palavras. Sempre acontece com a gente.
Tomei a minha decisão uma semana
atrás, mas preferi adiar por alguns dias a nossa conversa. Enquanto isso, eu bebo
cada segundo, como alguém prestes a ir para o deserto por vontade própria, e me
flagro em pedidos desesperados de socorro que só eu mesma conseguiria entender,
atender.
Viajei alguns anos no tempo e
senti a saudade que eu sentiria de você. Tomou o meu corpo inteiro e doeu
lugares que eu nem sabia que existiam. Pensei em desistir e rever as minhas opções,
mas, ao contrário, te abracei mais forte, como se tentasse extrair a sua
essência, guardar em um vidrinho os seus braços longos, as sobrancelhas
arqueadas, as suas palavras raras, mas sempre bem ditas. Esculpi os nossos
últimos dias como alguém que quer evitar de qualquer maneira os arrependimentos
do futuro. “Se eu soubesse que seria assim, teria aproveitado melhor”.
Tomei a minha decisão um mês
atrás e eu deveria fazer o que é certo, mas não há contras suficientes. Só
consequências demais.